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Conhecendo os Vinhos Tintos Espanhóis

Tempranillo, garnacha, cariñena, … conheça as principais uvas tintas utilizadas na produção dos vinhos espanhóis e quais as características dos vinhos elaborados com elas.

Já sabemos que os vinhos espanhóis estão posicionados entre os melhores do mundo e um fator que contribui fortemente para este excelente resultado são as uvas que se adaptaram muito bem ao solo, ao clima, à maneira como os espanhóis produzem seus vinhos, …, enfim, ao que chamamos terroir,um termo francês sem tradução exata ao português.

A tarefa é desvendar as principais uvas utilizadas pelos espanhóis na produção de seus vinhos e qual o resultado quando a bebida está pronta.

Segundo informações da Organização Internacional do Vinho e da Vinha (OIV), em 2018, duas variedades, a Airén (uva branca) e a Tempranillo (uva tinta), foram plantadas em quase metade (43,2%) dos vinhedos espanhóis.

Outra curiosidade sobre os vinhedos espanhóis é que, na maior parte deles, planta-se castas brancas, mas não podemos negar que a fama dos seus vinhos está associada às uvas tintas.

São muitas as variedades de uvas plantadas na Espanha, mas selecionei algumas que apresentam maior destaque.

Neste post, vou apresentar algumas uvas tintas, mas no próximo, será a vez das castas brancas.

Tempranillo

A Tempranillo é a uva emblemática da Espanha, sendo muito cultivada, principalmente nas regiões mais ao norte e ao centro do país. Eu diria que é “a espinha dorsal de muitos rótulos espanhóis”.

É a uva emblemática do país, sendo muito cultivada, principalmente nas regiões mais ao norte e ao centro do país. Eu diria que é a espinha dorsal de muitos rótulos espanhóis.

Seu nome “oficial” vem da palavra espanhola “temprano”, que significa “cedo”, fazendo referência ao fato de ela apresentar um amadurecimento precoce, antes da maioria das outras uvas. Mas, na própria Espanha, a Tempranillo possui diferentes nomes: na Ribeira Del Duero, é conhecida por Tinto del País e Tinto Fino; em Toro e em Zamora, como Tinta de Toro; em La Mancha e em Valdepeñas: Cencibel; por exemplo.

Mas esta diversidade não se resume à Espanha. Fora dela, também é conhecida por outros nomes: em Portugal: onde também possui grande fama, recebe os nomes de Aragonês, Tinta Roriz, dentre outros; na França: Grenache de Logroño; nos EUA, mais especificamente na Califórnia: Valdepeñas; e assim, ela vai se espalhando pelo mundo, assumindo diversas identidades.

É uma casta tinta que se adapta facilmente a diferentes tipos de solos e climas, por isso, é cultivada em vários países.

Quando pensamos em Tempranillo, muitas vezes associamos à Rioja. Isso normalmente acontece porque ela foi a primeira região a conseguir reconhecimento pela qualidade dos seus vinhos, tanto dentro, quanto fora do país.

Nesta região, é muito comum encontrar os conhecidos “vinhos de corte”, que correspondem a uma mistura de várias uvas. Neles, a Tempranillo é quase sempre a protagonista e, frequentemente, aparece acompanhada da Grenache e de algumas outras variedades locais.

Além, da Rioja, outras regiões espanholas também se destacam com esta casta, como a Ribera del Duero, com suas altitudes elevadas e solos calcários: condições que agradam muitíssimo à Tempranillo; e Toro, que elabora vinhos com bastante corpo e personalidade.

A Tempranillo possui cascas grossas, negro-azuladas, carnudas e densas e, normalmente, apresenta baixa acidez.

Os vinhos são, na maioria das vezes, envelhecidos em barris e bem diferenciados, tanto no nariz, quanto no paladar. Normalmente, apresentam as seguintes características:

– mesclam elegância e robustez;

– são firmes e com mais taninos (substância presente na casca e nas sementes da uva e que transmitem ao vinho uma sensação de adstringência no paladar);

– apresentam corpo de médio a pleno;

– são bem estruturados e desenvolvem complexidade com a idade;

– são muito resistentes à oxidação, por isso, podem resistir por muitos anos;

– apresentam de média a elevada graduação alcoólica;

– baixa a média acidez;

– variam do negro-azulado intenso ao atijolado claro ou grená;

– apresentam sabor marcante de frutas negras e vermelhas;

– são aromáticos: morango, cereja preta, ameixa, amora vermelha, amora negra, chá preto;

– com o tempo, quando vão evoluindo: apresentam aromas terrosos, baunilha, tabaco, couro, especiarias marrons, como noz moscada e canela.

Os vinhos elaborados com a Tempranillo mesclam elegância e robustez e apresentam sabor marcante de frutas negras e vermelhas.

Porém, é possível encontrar vinhos que sejam mais leves, simples e frutados e que não sejam tão propensos ao envelhecimento.

Garnacha

Também é conhecida como “Grenache”, na França, e Cannonau, na Itália.

Apesar de ser plantada em vários países, ainda é pouco popular. Isso acontece porque raramente é encontrada na forma de vinho varietal (aquele em que é usada apenas uma uva) de alta qualidade então, geralmente, ela é misturada a outras variedades.

Ela é uma uva versátil e muito utilizada na produção tanto de vinhos rosés, como de tintos secos ou doces, e de vinhos alcoólicos e frutados.

Suas uvas são tintas, delicadas, de pele fina, com poucos taninos e pigmentos, baixa acidez e ricas em açúcar, com cachos grandes e espaçados.

Os vinhos feitos com a Garnacha normalmente apresentam:

– baixa pigmentação, resultando em vinhos mais claros;

– caráter bem frutado;

– baixa a média acidez;

– elevados teores de açúcar (que, durante o processo de vinificação são convertidos em álcool, podendo resultar em vinhos mais alcoólicos);

– aromas intensos e destacados de fruta.

Logo, é fácil reconhecer um vinho elaborado com a Garnacha: a cor é relativamente fraca; o álcool é elevado; a acidez, baixa; e os aromas, frutados.

Cariñena

Muitos apreciadores de vinho sequer a conhecem, nem mesmo pelo nome francês, “carignan”. Na Espanha, ela também é conhecida por Mazuelo, na Rioja; e Samsó, na Catalunha.

Os seus vinhos apresentam níveis elevados em quase tudo: acidez, taninos, cor e amargor, exceto em sabor e “encanto”, deixando muito a desejar nestes aspectos. Mas nem tudo está perdido, para resolver esta questão, ela aparece, na maioria das vezes, misturada com outras uvas, onde ela contribui com tanino, acidez e cor, e outras uvas aportam o que falta na cariñena: são os chamados “vinhos de corte”, elaborados com várias uvas distintas. Mas, quando a uva é bem cuidada, em locais adequados e com uma baixa produtividade planta (ficando com a fruta mais concentrada), pode resultar num vinho varietal de excelente qualidade e brilhar sozinha.

Foto de freestocks.org no Pexels

Os seus vinhos apresentam níveis elevados em quase tudo: acidez, taninos, cor e amargor, exceto em sabor e “encanto”, deixando muito a desejar nestes aspectos. Mas nem tudo está perdido, para resolver esta questão, ela aparece, na maioria das vezes, misturada com outras uvas, onde ela contribui com tanino, acidez e cor, e outras uvas aportam o que falta na cariñena: são os chamados “vinhos de corte”, elaborados com várias uvas distintas. Mas, quando a uva é bem cuidada, em locais adequados e com baixa produtividade por planta (assim as uvas ficam mais concentradas em aromas e sabor), pode resultar num vinho varietal de excelente qualidade e brilhar sozinha.

E onde são elaborados os vinhos com a cariñena e que apresentam mais personalidade? Na região espanhola do Priorato, onde ela aparece, quase sempre, em cortes com a Garnacha, aportando taninos e acidez, que a garnacha não possui, e assim, formam uma dupla de sucesso.

E qual destas uvas agrada mais o seu paladar? Se vc ainda não sabe, é só fazer o teste, aproveitar e se preparar para o próximo post, onde falaremos sobre as uvas brancas mais utilizadas na elaboração dos vinhos espanhóis.

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Por Alê Mendonça

Sommelière; Engenheira Mecânica e Matemática; Mestre em Administração Tributária, na Espanha, e Mestre em Engenharia Mecânica; Diretora Executiva de Eventos da Associação Brasileira de Sommeliers do Distrito Federal - ABS-DF.

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